Archive for agosto 2009
Indo ao Teatro…
Brasileiros, de modo geral, não têm o costume de frequentar teatros. Não os culpo. Entre os poucos teatros existentes, um número ainda menor está em boas condições e são acessíveis à população comum. Mesmo assim, quando vou assistir a um espetáculo, não consigo deixar de olhar feio para quem não respeita algumas das convenções do teatro.
É evidente que algumas apresentações permitem à plateia uma liberdade maior; mas, na maioria dos espetáculos, o bom senso pede para seguirmos as convenções: uma forma singela e centenária de mostrar ao artista o quanto você respeita o trabalho dele.
A maior dica para quem não está acostumado a frequentar teatros é OBSERVAR. Na dúvida, olhe discretamente para ver o que as outras estão fazendo; evita-se, dessa forma, aplaudir ou virar às costas para o palco na hora errada.
Os aplausos são um grande problema principalmente quando se trata de concertos: o costume é aplaudir apenas no final, e não entre os diversos atos ou movimentos que estiverem sendo executados. No entanto, mais mal educado do que quem aplaude no momento errado é quem o corrige com um sonoro “chiiii”.
As convenções existem e eu, particularmente, as aprecio muito; mas é evidente que as regras podem ser quebradas, só que devemos tomar muito cuidado para não ofender os que nos brindam com sua arte: Beethoven, por exemplo, chegou a ser aplaudido em Paris após cada um dos movimentos, mas duvido que ele tenha se sentido ofendido. Vale o bom senso.
As campainhas do teatro, para mim, são sagradas. Sempre há quem, mesmo após a terceira campainha, continue conversando como se estivesse em sua própria casa. Eu fecho a boca logo após a segunda campainha, assim tenho tempo de me preparar para a apresentação. Imagino as campainhas como níveis de concentração: e a terceira exige toda a atenção do mundo voltada para o palco.
Comentar o que está se passando também pode ser muito desagradável. O melhor é guardar seus comentários para quando a apresentação estiver acabada. Lembro-me de uma vez que, enquanto todos esperavam que um ator fosse aparecer no palco, ele apareceu no fundo do teatro; e alguém gritou “ele está ali atrás!”. Ridículo. Teria sido muito mais educado se cada um que percebesse onde estava o ator virasse seu pescoço para trás, em pouco tempo todos já teriam notado e a fala da personagem não teria sido interrompida.
Falando em interrupção, de nada adianta desligar o celular se você não se lembrar de checar o relógio. Aqueles apitos de hora em hora também podem incomodar. Tosse também tem limite: se achar que não irá parar logo de tossir, o melhor é se dirigir ao banheiro e voltar quando estiver se sentindo melhor.
O final do espetáculo também exige alguns cuidados: em um concerto as palmas são longas, geralmente terminam após o maestro agradecer, pedir aos músicos para agradecerem e então agradecer novamente. Algumas vezes os aplausos vão além disso, obrigando o maestro a retornar mais vezes ao palco. Enquanto houver aplausos ele tentará ir embora e será obrigado a retornar, por isso também não é legal aplaudir demais.
E antes de sair, certifique-se de que os artistas deixaram o palco. Não vire às costas enquanto eles ainda estão apreciando os aplausos e desfrutando do resultado de sua apresentação.
Se você não ficou satisfeito com o que viu, não precisa aplaudir de pé; mas deixar de bater palma me parece um exagero. Você provavelmente escolheu ir ao teatro por conta própria, então não precisa ofender os artistas ou os que gostaram da apresentação. Expresse sua opinião ao não recomendar o espetáculo para um conhecido. Não precisa ser mal educado.
Para quem não tem o hábito de ir a teatros, é realmente difícil se policiar o tempo todo para respeitar às convenções ou para quebrá-las sem perder o bom senso, mas acho que vale o esforço.
Ser plateia também é uma arte; e se cada um desempenhar bem o seu papel, o espetáculo será ainda mais bonito.
Baseado em Fatos Reais
Sempre fui fascinada por filmes baseados em fatos reais. Não sei explicar o quanto me comove quando, ao final do filme, aparecem aqueles escritos contando o destino de algumas personagens, e é nesse momento que eu pareço cair na real de que tudo o que vi anteriormente fora baseado em histórias que realmente aconteceram. E quando o filme de fato termina, vem uma vontade louca de saber como foi a história de verdade e o que aconteceu com outros personagens.
CUIDADO: SPOILERS!
Um filme que me marcou muito foi O Oléo de Lorenzo (1992), sobre a luta de um garotinho para sobreviver a uma doença rara; eu nem conseguiria colocar nesse blog o quanto esse filme ainda mexe comigo. Sempre que revia o filme eu acessava a página da família dele para obter notícias, até o falecimento dele no ano passado.
Em alguns filmes a história precisa ser um pouco modificada para agradar ao público, como em Uma Mente Brilhante (2001), no qual são omitidas as várias separações dele e da esposa por conta da instabilidade de John Nash. Também descobri que o discurso feito no final do filme, ao receber o Nobel de Economia, é fictício, pois como Nash deixou de usar remédios, ele foi proibido de fazer um discurso de agradecimento: uma idéia sensata se considerarmos que ele já promoveu idéias anti-semititas, muito embora ele tenha atribuído à sua doença tais pensamentos mais-que-politicamente incorretss. As visões que ele tinha no filme também são incorretas, uma vez que suas alucinações se limitavam a vozes.
No filme Patch Adams (1998), que, conforme o costume brasileiro, recebeu um sub-título de gosto duvidoso: o amor é contagioso; mudanças no roteiro fizeram com que o destino de uma importante personagem fosse alterado: a namorada de Patch da época de faculdade não foi morta, ao contrário, ela continua muito viva e é mãe de dois filhos de Patch, um deles possui o curioso nome de Atomic Zagnut Adams. O assassinato que tanto afetou a vida do médico é de um amigo seu, e não de sua namorada. E também o abalou o suicídio de seu tio, que ocorreu na mesma época em que uma antiga namorada o largou, o que o levou a pensar em suicídio.
Em À Procura da Felicidade (2006), o final da personagem é contado, mas o filme esconde a infância terrível de Chris Gardner e sua má conduta na vida adulta: ele usava drogas (chegou a vender cocaína), era infiel (seu filho era fruto de um caso fora do casamento) e ele não era um pai tão atencioso (há relatos de que nos primeiros 4 meses do programa ele não fazia a menor idéia de onde estava a criança). Mas me dá arrepios saber que a cena no banheiro foi de fato baseada em um episódio real da vida de Gardner.
E a inspiração para este post veio do filme Inimigos Públicos (2009), filmaço ainda em cartaz por aqui. As alterações no filme ficam por conta de incorreções na data da morte de alguns bandidos e no fato de duas civis terem sido mortas no tiroteio do cinema Biograph no dia da morte de Dillinger. Mas pesquisar sobre a verdadeira história do bandido me chamou a atenção pela história de Anna Sage, cujo destino não é revelado: ela acaba deportada para a Romênia dois anos após a morte de Dillinger; não é à toa que o policial não lhe dá nenhuma garantia. Aliás, a expressão “dama de vermelho” para indicar uma pessoa não confiável surgiu por conta de Sage, que vestia uma saia laranja (vermelha sob a luz do cinema) para que os policiais pudessem reconhecer o famoso assaltante de bancos.
Eu adoro ler sobre as histórias reais por trás dos filmes, mesmo quando o filme em si não me agradou muito, como é o caso de O Exorcismo de Emily Rose (2005); o único filme sobre o qual eu nunca pesquisei e jamais irei pesquisar é A Troca (2008), simplesmente porque me chocou demais.
Parte das informações e algumas das imagens foram tiradas deste site: Chasing The Frog.