As aventuras de pequena Quel
Episódio de hoje: Striptease no banco mais querido do Brasil
Esta tarde, pequena Quel precisava pagar as taxas anuais de seu veículo (IPVA, DPVAT e taxa de licenciamento). O plano era fazer o pagamento pelo Internet Banking: o que deveria ser muito mais prático. Acontece que nada é prático no Banco do Brasil. Para começar, o sistema só funciona no Windows. E esse é praticamente o único motivo pelo qual pequena Quel mantém esse sistema operacional em seu computador. Antes de acessar a página do Internet Banking, ainda foi preciso instalar o módulo de proteção (pela 37ª vez só neste ano). Após baixar, instalar e reiniciar o computador, pequena Quel conseguiu acessar o bendito sistema para pagamentos online. E lá estava a opção para pagar o IPVA. Fácil, não? Não. Ao clicar na opção tão desejada, veio o aviso:
Problema na execução de sua solicitação…
No momento, esta transação de pagamento não poderá ser realizada no autoatendimento internet. Para realizá-la procure um caixa eletrônico ou uma agência do BB. (G999-501)
Pequena Quel, já acostumada com as frustrações de lidar com esse banco, foi até a agência mais próxima de sua casa, na Avenida da Saudade, para efetuar o pagamento. Acontece que o cartão de nossa heroína não funciona nos caixas eletrônicos. Esse problema já persiste há alguns meses, mas falta tempo para ir até a agência da conta solicitar um novo cartão. Pequena Quel faz compras normais no débito, mas não consegue utilizar o caixa eletrônico por falha na identificação. Por ora, bastava se dirigir ao caixa da agência com cartão e RG. Simples, não? Não! Nada é simples no Banco do Brasil. Pequena Quel entrou no banco, retirou sua senha e se dirigiu à porta detectora de metais.
Já acostumada a frequentar agências bancárias, pequena Quel separou chaves e celular. A porta travou. Pequena Quel tirou sua carteira e a bolsinha de moedas. A porta travou. Pequena Quel conversou com o guarda e lhe explicou que em sua bolsa só havia o Kindle, o qual não passa na portinha para pequenos objetos. O guarda pegou o Kindle através de um vão na porta. Sem carteira, moedas, chaves, celular e Kindle, pequena Quel tentou atravessar a enorme barreira de vidro à sua frente. A porta travou. Já impaciente, pequena Quel informou ao guarda: “não tem mais nada aqui” e abriu a bolsa para mostrar que estava vazia. Ele disse que poderia ser a caixinha do óculos (feita de pano!). Então era a sombrinha… que sombrinha, moço? Então eram as moedas no bolso… mas que bolso, moço? Esse short não tem bolsos. Então são os metais da bolsa! O guarda então sugeriu que pequena Quel utilizasse o guarda volumes. Foi preciso que o segurança empurrasse um a um os itens que pequena Quel já havia depositado no compartimento junto à porta. Frustrada e visivelmente impaciente, a cliente menos amada do Banco do Brasil juntou seus pertences, colocou-os na bolsa e guardou tudo no compartimento número 3. Segurando apenas os papéis necessários, a carteira e a chave do armário, nossa amiguinha se dirigiu mais uma vez à porta carinhosamente apelidada de Gandalf. A porta travou. Nossa! É claro que travou! Carteira e chave deveriam estar no compartimento junto à porta, mas a essa altura pequena Quel estava tão atordoada que nem estava pensando direito. Ela colocou a carteira e a chave na caixa de acrílico e se preparou para finalmente adentrar o banco. A porta travou.
Nessa hora, o guarda que era minimamente solícito já havia sumido de vista. Lá estava somente uma moça com cara de poucos amigos que evitava a todo custo o olhar impaciente de uma Quel que gesticulava vigorosamente a fim de ser notada. Foi preciso gritar “vem aqui!” para que a moça, muito mal humorada, chegasse perto do vidro. Nesse momento, a raiva era tanta que pequena Quel tremia dos pés à cabeça. Segurando apenas papéis e com lágrima nos olhos, esperava uma solução da segurança que olhava a cena como se não pudesse fazer nada. A essa altura, todo mundo já estava olhando a pequena garota que segurava o choro. Todos os olhos em pequena Quel. Nenhuma ajuda. Foi preciso gritar “vou ter que tirar a roupa?”. A guarda olhou com ligeiro espanto. “Moça, só falta isso! Vou ter que tirar minha roupa para entrar no banco?”. Todo mundo parou o que estava fazendo para observar a cena. A segurança, então, deu as costas. A raiva era tão grande que podia ser sentida na forma de uma terrível enxaqueca. Pequena Quel nunca se sentiu tão humilhada em toda a sua vida. É difícil até para explicar o que se passava naquele momento. Não dava nem para pensar direito. A respiração ficou difícil. O coração batia acelerado.
A segurança voltou acompanhada do que parecia ser um gerente e ele instruiu pequena Quel a continuar empurrando a porta para poder entrar. Não houve nenhum pedido de desculpa. Tudo o que pequena Quel ouviu foi a segurança falando para o gerente “é a fivela do short”. Isso! É a fivela de plástico do short! Isso explica tudo. Pequena Quel vestia um short jeans, com uma fivela de plástico pintada em tom metálico, uma regata laranja, um top de ginástica, meias de algodão e tênis. No cabelo levava uma presilha de plástico; no punho, uma fitinha de cetim. E só. Sem brincos, sem relógio, sem cinto. Nada, absolutamente nada que explicasse o que aconteceu naquele momento. Depois de todo esse estresse, pequena Quel subiu as escadas até o caixa e descobriu que seu número, R112, já havia sido chamado. Ela se dirigiu ao guarda e perguntou o que ela deveria fazer. Sair para pegar outra senha estava fora de cogitação! O rapaz se dirigiu até o guichê do caixa e explicou a situação. Era como se o banco estivesse fazendo um favor, como se eles estivessem sendo muito bonzinhos ao atender alguém depois da senha já ter sido chamada.
Pequena Quel pagou, desceu e saiu do banco, morrendo de vergonha por ter feito papel de louca. Acreditem, amigos, essa foi a primeira vez que pequena Quel ameaçou fazer um striptease em público. O nervoso era tão grande que ela nem sabe como atravessou a rua, chegou até o carro e foi para casa. Foi só quando ela girou a chave na porta da sala que a realidade de tudo o que havia sido vivido caiu como uma tempestade, causando uma crise de choro e agravando a enxaqueca, tamanha era a raiva do Banco Brasil naquele momento. Ninguém deveria ser obrigado a passar por tanta humilhação.
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