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Mensagem Subliminar IV: Hércules

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Para começar, precisamos contextualizar o filme Hércules (1997), pois os caça-subliminares parecem não se dar o trabalho de separar o mundo-real-atual do mundo-mitológico-grego-antigo:

O desenho conta a história do personagem mitológico Hércules (também conhecido por Héracles, Alcídes e por muitos epítetos), herói famoso em toda a literatura antiga (cf. Hesíodo, Apolodoro, Virgílio, Propércio, Ovídio, Higino, Sêneca, entre muitos outros autores). O filme da Disney traz uma versão do mito de Hércules levemente baseada nos dados mais recorrentes entre as várias versões existentes e, claro, com inovações para cativar o público infantil.

A história se passa no mundo mitológico da Grécia antiga, ou seja, está muito distante da nossa realidade: mesmo entre os gregos antigos, segundo relatos, não era possível afirmar se Hércules existiu ou se era somente uma história inventada que foi contada ao longo de gerações; e, se ele existiu, o mais provável é que ele não era um herói semi-humano com força sobrenatural. Assim, a história de Hércules não evoca um civilização demoníaca que lida com forças malignas, mas um povo antigo cujas crenças devem ser respeitadas.

Para minha crítica, dentre os muitos sites que apontam subliminares em Hércules, utilizei principalmente esteeste e este vídeo (de um pastor).

Enfim, o primeiro ponto que sempre criticam em relação à história é a presença de Hades, que muitos afirmam ser “inferno” em grego. Mas eu explico: Hades vem do grego Άΐδης, que significa “aquele que não pode ser visto”; era, de acordo com a mitologia, o deus do Mundo dos Mortos, também chamado de Inferno (mas que não deve ser identificado com o Inferno dos cristãos, pois há uma distância cultural gigantesca entre essas duas definições). É evidente que mais tarde a palavra Hades foi utilizada para designar o inferno do mundo cristão, como pode ser verificado em algumas passagens bíblicas, mas foram homens cristãos que fizeram essa identificação muito depois do surgimento de Hades na religião grega.

É importante destacar que Hades não era necessariamente mau, assim como todos os outros deuses, ele desfavorecia ou favorecia alguns mortais de acordo com sua vontade. Mas na história da Disney ele é o vilão, ou seja, ele é como o Capitão Gancho ou a bruxa malvada da Branca de Neve: não é o demônio em pessoa se manifestando pra destruir criancinhas diante da TV.

A figura de Phil, treinador do herói, também é apontada como referência ao demônio em forma de bode. Bom, Filoctetes na mitologia grega possuía a forma humana e não desempenhava o papel que ele tem na animação; mas muitas são as figuras metade bode e metade homem na mitologia, como os sátiros e o deus Pan. Há quem diga que Phil é uma referência ao paganismo, então eu digo: o filme todo é uma grande referência ao paganismo, pois a religião grega antiga, não sendo cristã, pode ser considerada pagã.

Há uma cena do desenho muito comentada nos sites de subliminares: nessa cena, o fogo da cabeça de Hades forma a palavra Jesus (bem no momento em que ele diz “e o único idiota que pode estragar tudo está perambulando por aí”) e depois esse mesmo fogo forma uma cruz.

Ok. Vamos analisar a imagem da “óbvia” referência a Jesus que não dura nem meio segundo:

Eis o que os “especialistas” em subliminares veem:


Como quem procura acha, olha o que eu encontrei nessa mesma cena:

1. J suis, do francês, Je suis (“eu sou”); dessa forma, acredito que a disney estava conduzindo as crianças, principalmente as francesas, a um momento de catarse, para que pudessem refletir sobre sua trajetória pessoal.

2. S.O.S.: uma clara referência à necessidade de se pedir ajuda em caso de incêndio, alerta reforçado pelo fogo que emana do corpo de Hades.

3. II aviãozinho Y N: como sabemos, YN é New York ao contrário. A referência ao ataque  às torres gêmeas do WTC é evidente no desenho do primeiro prédio prestes a ser atingido pelo avião terrorista, e o fogo de Hades ajuda a compor a cena trágica que chocou o mundo no dia 11 de setembro de 2001. Essa previsão é ainda reforçada pelo fato de Hércules (1997) ter estreado na Nova Zelândia no dia 11 de setembro (ver IMDB).

Em relação ao símbolo da cruz, preciso mesmo explicar? Se a personagem tem na cabeça uma chama que é atiçada de acordo com seu humor, numa explosão de raiva é aceitável que ela tome conta de todo o seu corpo; e, se ele abre os braços nesse estado de ira, o que temos? Uma cruz.

Ora, qualquer pessoa em pé que abrir os braços com as pernas fechadas irá formar uma cruz (será coincidência? o.O). Há quem veja no Cristo Redentor uma referência a sua crucificação, mas há quem veja nele um Jesus abraçando a humanidade, abençoando o Rio de Janeiro e distribuindo amor. Ou seja, nem todo braço aberto faz referência à cruz. E mais, a cruz, antes de ser o símbolo do cristianismo, era uma estrutura de madeira que mantinha os prisioneiros (cristãos ou não) de braços abertos para que tivessem uma morte lenta e dolorosa; e a forma em T era só um dos muitos modelos utilizados para a crucificação na antiguidade.

E agora eu pergunto, quem é “o único idiota que está perambulando por aí” a quem Hades se refere naquela cena?
a)     Hércules.
b)     Jesus.
c)     Quem inventa mensagens subliminares para assustar criancinhas.
d)     Eu, que me dou ao trabalho de tentar explicar o que mentes doentias veem em uma simples animação infantil.

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setembro 4, 2010 at 7:49 pm

Mensagem Subliminar III: A Pequena Sereia

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pequena sereia capaJá critiquei as supostas mensagens subliminares dos livros do Harry Potter e do filme da Cinderela; e mais uma vez venho compartilhar as bizarras notícias de subliminares, desta vez, no filme A Pequena Sereia (1989):

A primeira mensagem subliminar apontada em tudo quanto é site sobre o assunto é a suposta imagem de um pênis que aparece no palácio de Tritão. Antes de julgarmos se a figura é capaz de incitar o desejo sexual em alguém, é preciso nos perguntar se no nosso dia-a-dia não nos deparamos com outras imagens semelhantemente penisesfálicas. Não foi preciso buscar muito no Google para encontrar imagens assim em legumes e árvores. Então será que podemos mesmo julgar que o desenhista do palácio quis que uma coluna nos remetesse a um órgão sexual?

Aproveito para lembrar que, na Roma Antiga, crianças costumavam pendurar no pescoço pingentes em forma de pênis: era uma forma de atrair boa sorte e reverenciar o deus Priapo. Também as figas, cujo uso ainda perdura, são referências ao deus fálico, portador de um avantajado membro. Será que os mesmos puritanos que condenam o filme da Disney não possuem em casa uma “inocente” figa, símbolo da pepriaponetração sexual? E que medo é esse de imagens que nos remetem ao sexo? Elas não nos tornam mais devassos. A malícia está na cabeça das pessoas. Na Roma antiga, os jardins eram decorados com imensas estátuas de pênis e as pessoas ostentavam na sala de suas casas imagens de um Priapo nu. Tudo muito normal. Ninguém se ofendia. E então veio a Igreja proibir, condenar, reprimir.

Na capa também surgem comentários a respeito da posição do príncipe ao lado de Ariel. Uma pergunta que algum caça-sublimar propôs e que foi repetida em todos os sites do gênero é: onde está a mão dele? Oras! Qualquer pessoa com bom senso, levando em conta as proporções anatômicas humanas, perceberá que a mão dele não está em nenhuma posição suspeita. De qualquer forma, a Disney, provavelmente para evitar maiores comentários, desenhou a mão dele em cima da pedra na capa para a nova versão do filme.

padre eretoMas não é só no palácio de Tritão que os puritanos fazem questão de ver um pênis. Dizem que o padre que celebra o malfadado casamento está excitado: quanta imaginação! Pois se aquela dobrinha na roupa do padre é um sinal de excitação, o membro dele é um tanto desproporcional em relação ao resto do corpo. E a dobrinha surge logo após um movimento que ele faz com os braços, sugerindo um simples movimento da batina e não uma ereção (veja aqui). De qualquer forma, na versão em DVD, a dobrinha na roupa do padre não aparece mais, e só sabemos que ela estava lá por conta dos mil sites que exibem a imagem da versão antiga do desenho.

sereia nao sexyUma ONG criada para denunciar mensagens subliminares viu sensualidade demais no corpo de Ariel. É curioso observar que, embora o site se refira claramente à princesa da Disney, a imagem exibida é a de uma versão genérica para a história da pequena sereia. Mas o caso é que a princesa tem curvas, é magra: típico padrão de beleza difundido pela sociedade e que, sereia sexynão se pode esquecer, faz parte do imaginário popular em relação às sereias; mas não vejo nada de exageradamente sensual em sua imagem. Que o pessoal do site não veja as versões mais picantes para a princesa que andam aparecendo na internet!

Enfim, acredito que subliminares existem e que é interessante sua divulgação na internet; mas falta muito bom senso. Antes de se colocar fogo em todas as animações da Disney, acho importante prestar mais atenção e se perguntar sempre se, de fato, é no filme que a malícia está.

Written by Quel

setembro 16, 2009 at 1:08 am

Baseado em Fatos Reais

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Sempre fui fascinada por filmes baseados em fatos reais. Não sei explicar o quanto me comove quando, ao final do filme, aparecem aqueles escritos contando o destino de algumas personagens, e é nesse momento que eu pareço cair na real de que tudo o que vi anteriormente fora baseado em histórias que realmente aconteceram. E quando o filme de fato termina, vem uma vontade louca de saber como foi a história de verdade e o que aconteceu com outros personagens.

CUIDADO: SPOILERS!

Um filme que me marcou muito foi O Oléo de Lorenzo (1992), sobre a luta de um garotinho para sobreviver a uma doença rara; eu nem conseguiria colocar nesse blog o quanto esse filme ainda mexe comigo. Sempre que revia o filme eu acessava a página da família dele para obter notícias, até o falecimento dele no ano passado.

Crowe-NashEm alguns filmes a história precisa ser um pouco modificada para agradar ao público, como em Uma Mente Brilhante (2001), no qual são omitidas as várias separações dele e da esposa por conta da instabilidade de John Nash. Também descobri que o discurso feito no final do filme, ao receber o Nobel de Economia, é fictício, pois como Nash deixou de usar remédios, ele foi proibido de fazer um discurso de agradecimento: uma idéia sensata se considerarmos que ele já promoveu idéias anti-semititas, muito embora ele tenha atribuído à sua doença tais pensamentos mais-que-politicamente incorretss. As visões que ele tinha no filme também são incorretas, uma vez que suas alucinações se limitavam a vozes.

robin-patchNo filme Patch Adams (1998), que, conforme o costume brasileiro, recebeu um sub-título de gosto duvidoso: o amor é contagioso; mudanças no roteiro fizeram com que o destino de uma importante personagem fosse alterado: a namorada de Patch da época de faculdade não foi morta, ao contrário, ela continua muito viva e é mãe de dois filhos de Patch, um deles possui o curioso nome de Atomic Zagnut Adams. O assassinato que tanto afetou a vida do médico é de um amigo seu, e não de sua namorada. E também o abalou o suicídio de seu tio, que ocorreu na mesma época em que uma antiga namorada o largou, o que o levou a pensar em suicídio.

smith-gardnerEm À Procura da Felicidade (2006), o final da personagem é contado, mas o filme esconde a infância terrível de Chris Gardner e sua má conduta na vida adulta: ele usava drogas (chegou a vender cocaína), era infiel (seu filho era fruto de um caso fora do casamento) e ele não era um pai tão atencioso (há relatos de que nos primeiros 4 meses do programa ele não fazia a menor idéia de onde estava a criança). Mas me dá arrepios saber que a cena no banheiro foi de fato baseada em um episódio real da vida de Gardner.

depp-dillingerE a inspiração para este post veio do filme Inimigos Públicos (2009), filmaço ainda em cartaz por aqui. As alterações no filme ficam por conta de incorreções na data da morte de alguns bandidos e no fato de duas civis terem sido mortas no tiroteio do cinema Biograph no dia da morte de Dillinger. Mas pesquisar sobre a verdadeira história do bandido me chamou a atenção pela história de Anna Sage, cujo destino não é revelado: ela acaba deportada para a Romênia dois anos após a morte de Dillinger; não é à toa que o policial não lhe dá nenhuma garantia.  Aliás, a expressão “dama de vermelho” para indicar uma pessoa não confiável surgiu por conta de Sage, que vestia uma saia laranja (vermelha sob a luz do cinema) para que os policiais pudessem reconhecer o famoso assaltante de bancos.

Eu adoro ler sobre as histórias reais por trás dos filmes, mesmo quando o filme em si não me agradou muito, como é o caso de O Exorcismo de Emily Rose (2005); o único filme sobre o qual eu nunca pesquisei e jamais irei pesquisar é A Troca (2008), simplesmente porque me chocou demais.

Parte das informações e algumas das imagens foram tiradas deste site: Chasing The Frog.

Written by Quel

agosto 16, 2009 at 5:20 pm

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+5 Fimes “Estrangeiros” que você tem que ver

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Estava lendo o Chongas quando me deparei com um post sobre filmes “estrangeiros” que, de tão fantásticos, merecem ser assistidos (várias vezes). E lá se encontram listados: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001), O Labirinto do Fauno (2006) e Old Boy (2003). A França tem realmente produzido comédias interessantes como A Noiva Perfeita (2006) , O Closet (2001)  e a série Táxi (1998-2007), mas Amélie ainda é insuperável; Guillermo Del Toro está traçando seu caminho a la Tim Burton, e eu, claro, adoro; e Old Boy certamente foi uma surpresa para mim, pois não sou muito de assistir a filmes coreanos, mas tem pelo menos mais um filme desse diretor (Chan-wook Park) que eu recomendo: Sympathy for Mr. Vengeance (2002).

Assim, concordo plenamente com a lista do Chongas, e à essa lista decidi acrescentar mais 5 filmes estrangeiros que eu acredito serem memoráveis:

eternal_sunshineBrilho Eterno de uma Mente sem LembrançasEternal Sunshine of the Spotless Mind (2004):  Só pelo tamanho do título o filme já merece meu respeito. Mas trata-se certamente de um filme memorável. A sinopse pode parecer muito louca, mas quando assistimos não tem como não nos perguntarmos: “mas e se fosse possível apagar alguém de nossas lembraças?”.

Lars.And.The.Real.Girl[2007]DvDrip[Eng]-aXXo[(026100)17-53-07]A Garota IdealLars and the Real Girl (2009): Um filme recente, de orçamento modesto e com atores que, embora já conhecidos, ainda não se tornaram estrelas hiper-bem-pagas de Hollywood. Mas o destaque desse filme não fica só nas boas atuações, mas na hilária situação em que toda uma comunidade se vê envolvida quando Lars lhes apresenta sua namorada, Bianca que, entre muitas características curiosas, é metade brasileira e metade dinamarquesa.

BrugesNa Mira do ChefeIn Bruges (2008): Este filme realmente me surpreendeu. Decidi assistir depois de uma busca no Google para descobrir que raios era “Bruges”, e então descobri ser uma bela cidade na Bélgica. E um filme que se passa em um lugar lindo assim merece ser assistido, mesmo que a sinopse no IMDB não me sugerisse grande coisa. Mas como eu já disse, a história me surpreendeu. E, logo após ter feito O Sonho de Cassandra (2007), Colin Farrell fez bem em protagonizar esse filme, assim ele não se queimou muito. (Nota: até hoje não consegui ver graça em Woody Allen).

death_at_a_funeralMorte no FuneralDeath at a Funeral (2007): Uma comédia com vários dos clichês que vemos por aí. Mas essa realmente me fez rir do começo ao fim. Não vou dizer que possui uma moral a ser ensinada, ou que nos conduza a uma catarse, mas é um filme leve e divertido, e todo precisamos de momentos com risadas e pipocas. Mas Hollywood já está dando um jeito de estragar esse filme: estão fazendo um remake com Chris Rock e Martin Lawrence (Nota: por que um filme em língua inglesa e lançado a menos de 2 anos será submetido a esse martírio cinematográfico?).

igbyA Excêntrica Família de IgbyIgby Goes Down (2002): Pouco conhecido no Brasil, muito criticado e de longe meu filme favorito; Igby ainda conta com um elenco mega famoso que inclui Susan Sarandon, Bill Pullman e Jeff Goldblum. A quem gosta de humor negro, esse filme certamente vai agradar. Já aviso que foram poucas as pessoas para quem eu recomendei esse filme que de fato o apreciaram tanto quanto eu. Mas fica a dica.

E antes que alguém pergunte, estrangeiro para mim é todo filme não produzido no Brasil. Acho bizarra essa idéia de que filme estado-unidense não é estrangeiro para os brasileiros; já passou da hora de nós definirmos o que é estrangeiro pelos nossos próprios parâmetros, e não pelo que diz a cerimônia do Oscar. E só para constar: Hollywood, apesar de produzir um lixo comercial atrás do outro, também tem seus filmes incríveis e que devem ser assistidos.

Written by Quel

julho 4, 2009 at 8:56 pm

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Harry Potter e o Enigma do Príncipe

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Já viu o teaser trailer do Harry Potter? Agora os teasers divulgados têm legenda em português:

Teaser 1 halfblood_poster

Teaser 2

Teaser 3

Teaser 4

Teaser 5

Teaser 6

Teaser 7

Teaser 8

Se cometi algum erro nas legendas, por favor, me avise.

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maio 25, 2009 at 5:00 pm

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Preconceitos

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No imaginário de muitas pessoas, os americanos (estado-unidenses) são um povo racista que não tolera a diferença. Embora a mídia goste de divulgar os casos extremados de racismos que acontecem nos EUA, sabemos que eles são um povo tão heterogêneo quanto nós: cheios de raças e culturas diferentes que dificultam a definição do conceito “ser americano”.

gran-torinoNão querendo dizer que não há preconceito nos States, imagino que ainda existam muitos americanos que não se deram conta de que a nação deles pertence também a judeus, africanos, latinos, europeus, asiáticos e mais uma infinidade desses rótulos criados para tentar agrupar seres humanos, dividindo-os ora por religião, ora por cor da pele, ora por país de origem, ora por sotaque, etc.

Crash – no limite (2004) mereceu o Oscar de melhor filme ao ser capaz de mostrar como o preconceito é um mau que atinge diferentes culturas. Podem ser muitas as pessoas que têm medo do que lhes é estranho, mas os americanos brancos e conservadores costumam ser lembrados como os mais racistas.

Digo isso para mostrar como o cinema americano tem tentado cada vez maisrio-congelado mostrar que esses americanos conservadores podem vencer o preconceito e rever a maneira como encaram outras culturas. E ainda mostram como essas pessoas só têm a ganhar ao se abrirem para novas culturas. Geralmente motivados por uma tragédia pessoal, os filmes procuram mostrar que mesmo a mais preconceituosa das pessoas pode aprender a conviver com o diferente e aprender com ele.

Em Campinas estão em cartaz três grandes filmes que de uma forma ou de outra esbarram nessa transformação do americano preconceituoso em uma pessoa mais consciente a respeito das outras culturas: Rio Congelado (2008), O Visitante (2007) e Gran Torino (2008). Três histórias que emocionam, mas que também nos fazem refletir sobre a intolerância.

the-visitorOs americanos podem aprender muito com esses filmes, mas nós brasileiros também temos muito o quê aprender. Será que o cinema é uma mídia capaz de ajudar alguém a se tornar um ser humano melhor? Não sei. E também não me arriscaria dizer que esse era o objetivo dos produtores. Mas fica a dica de três excelentes filmes que contam as histórias de americanos que foram obrigados a rever o posicionamento deles diante do outro, do exótico, sem que, necessariamente, o combate ao preconceito seja o mote principal do filme.

Em tempo: existe ainda um quarto filme, também em cartaz no momento, que parece tratar do tema; mas ainda não tive a oportunidade de assisti-lo: Território Restrito (2009).

Written by Quel

abril 12, 2009 at 4:16 pm

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Mensagem Subliminar: Cinderela

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É irritante ler a respeito de mensagens subliminares na internet, pois agora qualquer coisa é motivo para alguém sair divulgando que se trata de uma referência ao demônio, apologia ao suicídio, incentivo às crianças para matarem seulucifer-cara-de-mau1s pais, etc. E os filmes da Disney se tornaram o alvo preferido.

Quem digitar Lúcifer e Cinderela no Google ficará surpreso com a quantidade de sites que simplesmente repetem o que algum espertinho resolver falar a respeito da presença maligna de Lúcifer no desenho da Gata Borralheira (1950). É justamente a este texto tão divulgado na internet que pretendo responder:

Mensagens Subliminares em Cinderela:

– Um ratinho é descoberto no porão, e ainda não fala como os outros, amigos de Cinderela, porém quando colocam nele um chapeuzinho e um par de sapatinhos como de duendes, este imediatamente começa a falar.

ratinho

Eu vejo nas roupinhas mais uma humanização dos animais do que uma relação com duendes. Mas se alguém deseja ver duendes por toda parte, eu respeito.

– O nome do gato é lúcifer. Cinderela abre a porta do quarto, a luz entra e bate nos olhos do gato que acabara de acordar, e o chama: ” – Lúcifer, venha aqui”.

Uma invocação do demônio? Ora, mesmo que fosse, seria então preciso destacar que Lúcifer se recusa a ir de encontro à Cinderela e então ela ordena que ele faça a sua vontade. Sendo assim, a mensagem poderia ser a de que podemos nos impor sobre a vontade do Diabo e lhe dar ordens. Mas, sinceramente, eu acho isso tudo uma grande besteira. O nome do gato é Lúcifer, sim, e daí? Não entendo essa relação feita com o próprio Satã. (Quem quiser acompanhar a cena pode encontrá-la neste link do YouTube).

– Logo após esta cena, acontece um diálogo entre a Cinderela e o cachorro (Bruno) que acabara de ter um pesadelo com o gato (Lúcifer). Ela tenta convencê-lo que Lúcifer é bom, e diz: “…Lúcifer tem o seu lado bom…” Isto traz confusão na mente das crianças, pois quando os pais estiverem ensinando a respeito de Satanás, o filho que tem a cena gravada no seu inconsciente, diz a si mesmo: “Ora, mas ele tem o seu lado bom”

Esse comentário é particularmente hilário. Mesmo que o filme estivesse tentando levar as criancinhas a abandonarem suas crenças e se juntarem ao Sr. Walt Disney em uma seita satânica, faltou lembrar que Cinderela, ao tentar mostrar o lado bom de Lúcifer, não consegue enumerar nenhuma qualidade do bichano. Observe a fala de Cinderela (eu fiz a tradução do original, pois não consegui assistir à versão dublada do filme):

Cinderella: [to Bruno, the dog] Dreaming again. Chasing Lucifer? Catch him this time? That’s bad. (Sonhando novamente. Perseguindo Lúcifer? Você o pegou desta vez? Que feio!) [Lucifer snickers]

Cinderella: Suppose they heard you upstairs. You know the orders. So if you don’t want to lose a warm, nice bed, you’d better get rid of those dreams. Know how? Just learn to like cats. (Acho que lhe ouviram lá em cima. Você conhece as ordens. Então, se você não deseja perder uma cama boa e quentinha, é melhor você se livrar desses sonhos. Sabe como? É só aprender a gostar de gatos.)

[Bruno groans]

Cinderella: No, I mean it. Lucifer has his good points, too. For one thing, he… Well, sometimes he… Hmmm. There must be something good about him! [Bruno laughs at Lucifer] (Não, eu falo sério. Lúcifer também tem seu lado bom. Por exemplo, ele… bem, algumas vezes, ele… Hmmm. Tem que haver algo de bom nele!)

Se a Disney pretendia passar a mensagem de que o Diabo é uma criatura boa através do gato Lúcifer, não fez um bom trabalho. Como eu já disse, não acredito que a intenção fosse relacionar o gato com o símbolo cristão para O Mau, mas mesmo se fosse o caso, não vejo uma exaltação do demônio através das personagens do filme.

Em um site também encontrei o seguinte comentário sob o título “O império do mal” (sic) de alguém que assina como “Pastor Josué Urion”.

Já reparou bem no nome do gato desse desenho? “Lúcifer”! Carácules! Isso é a maior conjuração! É uma evocação da entidade Lúcifer, o demônio! Tem uma cena em que a Cinderela chama esse gato. Experimente fechar os olhos durante essa cena. Apenas ouça ela falar: “Lúcifer, venha cá.”. Você teria coragem de falar “Lúcifer, venha cá” em sua própria casa? (bom…com certeza não se estiver sozinho e for meia-noite) Como deixa um desenho animado fazer isso por você?

lucifer-dormindo

Vale destacar que Lúcifer, a princípio, não significa Demônio. É uma palavra latina que, literalmente, significa “o portador da luz”, “aquele que carrega a luz” (Luci-, de luz – em latim, Lux, lucis; e -fer, imperativo do verbo carregar – em latim, ferre ). Lúcifer era o nome dado à Vênus, à Estrela D’Alva, a estrela mais brilhante pela manhã. O que me parece evidente quando, no filme, a primeira vez que vemos o gato é com a luz da manhã batendo em seu rosto.

Acredita-se que a palavra só tenha ganhado o sentido de Demônio por conta de uma passagem bíblica. Observe Isaías (14:12), na Vulgata, tradução da bíblia para o latim:

Quomodo cecidisti de caelo, lucifer, fili aurorae? Deiectus es in terram, qui deiciebas gentes.” (Como caíste do céu, lúcifer, filho da aurora? Foste jogado por terra, tu que derrubavas os povos.)

Essa passagem faz parte de um discurso dirigido ao Rei da Babilônia, provavelmente o tirano Nabonide, prevendo sua queda no poder e a libertação do povo de Israel. Assim, a partir de uma comparação entre o Rei da babilônia e a Estrela D’Alva, passou a se associar o nome Lúcifer (tão inocente no início) com o de um anjo que supostamente teria caído do céu. Não é de se estranhar que nas traduções da bíblia evita-se chamar a estrela de Lúcifer: na minha versão francesa da bíblia lê-se “Astre brillant”; e na portuguesa, “Estrela brilhante” e então segue uma nota dizendo “Daí vem o nome Lúcifer, dado a Satã”.

lucifer-carinhoO fato de o gato ser malvado não ajuda muito minhas teorias… mas eu o vejo mais como um personagem caprichoso e encrenqueiro, como são os gatos no imaginário de muitas crianças; se prestarmos atenção na relação do gato com a Cinderela no início do filme, para mim fica claro que ele quer a atenção dela, o que não ganha. Observe a cena em que ele simula ter sido atacado pelo cachorro, o que faz com que Cinderela conduza Bruno para fora da casa; no momento em que o gato vai receber o leite, é evidente que ele queria um carinho da princesa, mas recebe a bebida secamente.

Ele não é a encarnação do demônio. É só um gato.

Written by Quel

abril 1, 2009 at 2:00 pm

Watchmen

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watchmen

Sou fã descarada das adaptações de HQs, mas confesso que quase não leio quadrinhos… Então, como fã desse gênero cinematográfico, estava ansiosa para ver Watchmen. Li críticas muito boas e outras muito ruins, e não pretendo repetir tudo o que os outros disseram, então vou comentar o que não tenho lido em outros blogs.

No filme há muitas cenas às quais eu não consegui assistir. Por mais que meu namorado apontasse e tentasse me fazer olhar, eu virava a cara toda vez que sentia que uma cena violenta estava se aproximando. Tem personagens que sofrem fraturas expostas e outros que têm partes de seu corpo comidas (por homens ou cães), um verdadeiro horror para quem não curte muito sangue. Ainda assim eu não acho que a violência tenha sido usada em vão. Tanto horror de fato ajuda a contar uma história de super-heróis sem infantilizar, como ocorreu com emo-aranha no seu último filme. As relações entre os heróis são coerentemente tão complexas que poderiam ser reais.

Minha única crítica fica para uma falha que talvez não seja apenas do filme (ainda não li os quadrinhos): os papéis femininos são fracos e estão ali apenas para servirem de fundo aos tão importantes homens desta história. Não querendo ser feminista, mas Laurie poderia ser uma personagem mais esperta e expressar uma opinião de vez em quando…

Curiosidade: Não posso deixar de comentar a famosa frase do filme:  “quem vigia os vigilantes?”… Trata-se de um conhecido provérbio de uso universal cujo primeiro registro se encontra nas Sátiras do poeta romano Juvenal, livro VI: sed quis custodiet ipsos custodes? (Mas quem guardará os próprios guardas?). Fantástico como um provérbio latino coube tão bem ao explicar o que se passa com os heróis do filme.

Written by Quel

março 29, 2009 at 6:29 pm

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Sessão da Tarde 2.0

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Muitos livros infantis já renderam adaptações de sucesso nas mãos de bons produtores. E o melhor é que os filmes voltados para crianças, mesmo após saírem de cartaz, têm exibição garantida nas sessões vespertinas como a Sessão da Tarde, na Rede Globo e o Cinema em Casa, no SBT.

capa-1971-ok1Um clássico da minha infância foi A Fantástica Fábrica de Chocolate (Willy Wonka & The Chocolate Factory, 1971), que eu assisti dezenas de vezes. O filme foi baseado no livro infanto-juvenil Charlie and The Chocolate Factory, de Roald Dahl, e teve o roteiro adaptado pelo próprio autor. A história do esquisito Willy Wonka e seus Oompa Loompas em busca de um herdeiro para seu império de chocolate é contada com muito bom humor e através de recursos visuais que satisfaziam os olhos dos espectadores da época e não deixavam de conquistar as crianças da minha geração (final dos 80, início dos anos 90).

capa-2005-okOs personagens marcantes, a história bonitinha e o cenário inesquecível de uma fantástica fábrica de chocolate foram bons o bastante para fazer com que a Warner Bros. decidisse produzir um novo filme em 2005: Charlie and the Chocolate Factory, que no Brasil também foi chamado de A Fantástica Fábrica de Chocolate.
Sem a participação do próprio autor na elaboração do roteiro, parece que o filme ficou ainda mais próximo do universo do livro. Além das novas tecnologias disponíveis, o filme ainda contou com a direção do maravilhoso Tim Burton e com a atuação de atores já famosos como Freddie Highmores (Em Busca da Terra do Nunca) e Helena Bonham Carter, além do super astro Johnny Depp.
Claro que as comparações entre os dois filmes são inevitáveis, mas acho complicado querer julgar um em detrimento do outro quando foram produzidos em épocas tão diferentes da história do cinema. Selecionei algumas imagens dos filmes:

charlie-ok

oompa-loompa-ok

willy-wonka-ok

Recentemente estreou nos Estados Unidos o filme Race to Witch Mountain, ainda sem estréia prevista aqui no Brasil. O nome do filme imediatamente me lembrou de A Montanha Enfeitiçada (Escape to Witch Mountain, 1995), outro clássico que eu assistia durante as férias escolares.  O filme conta a história de dois irmãos gêmeos que foram separados ainda bebês e que, após se reencontrarem por acaso em um orfanato, descobrem que possuem poderes sobrenaturais quando estão juntos. Uma rápida busca me mostrou que ambos os filmes são adaptações da Disney a partir do livro Escape to Witch Mountain, de Alexander Key. Mas mesmo o filme de 1995 já era um remake de um filme de 1975 (também da Disney), que parece ter sido absurdamente famoso na época e chegou a ganhar uma continuação em 1978 (Return from Witch Mountain). Portanto, o livro ganhou este ano sua terceira versão cinematográfica, agora com a atriz AnnaSophia Robb (a mesma Violet de A Fantástica Fábrica de Chocolate) e o famoso, mas não tão expressivo, Dwayne Johnson (O Escorpião Rei).

Acho que vai valer a pena conferir, pois, no mínimo, renderá uma tarde de nostalgia.

witch-mountain-ok

Written by Quel

março 29, 2009 at 5:56 pm

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Google Movies

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google-moviesPara os que ainda não conhecem: o Google dispõe de uma excelente página de busca por filmes em cartaz em diversas cidades do Brasil.

Confiram: www.google.com/movies

A qualidade não fica só no típico visual “clean”, mas também pela excelente idéia de exibir em uma única página tudo o que você mais precisa saber antes de sair de casa para ver um filme. A ferramenta de busca não é novidade nos Estados Unidos, onde existe desde 2005, mas no Brasil ficou disponível apenas no ano passado e ainda não se popularizou. Difícil entender porque o Google, sempre tão atento em divulgar suas novidades, ainda não fez grande alarde sobre essa ferramenta que supera em muito qualquer outro site que contenha a programação dos cinemas da região de Campinas (e acredito que não seja muito diferente em outros lugares do Brasil).

Written by Quel

março 20, 2009 at 12:46 am

Publicado em Cinema